terça-feira, 22 de janeiro de 2019

BE quer extinguir concessão da atividade turística da Serra da Estrela por incumprimento

Grupo Parlamentar do Bloco de Esquerda apresentou projeto de resolução na Assembleia da República visando extinguir a concessão à empresa Turistrela e a “adoção de um modelo de gestão semelhante ao definido para o Parque Nacional Peneda Gerês”.


Os deputados do Bloco de Esquerda (BE) entregaram na Assembleia da República, a 18 de janeiro, um projeto de resolução que propõe a “extinção da concessão da atividade turística da Serra da Estrela por incumprimento”. Em causa está a concessão à Turistrela, empresa que – denunciam os bloquistas – “está continuamente a contornar e violar a lei, e pelo menos desde 2003 que estes atropelos à legislação e às bases do contrato de concessão são relegados pela entidade concessionária”.

“Em 1986, o Estado atribui à Turistrela S.A. condições excecionais e de monopólio de concessão em exclusivo para a exploração de uma área de cerca de 40 mil hectares durante 60 anos, benefícios fiscais e exclusividade total nos investimentos naquela área, entregando toda aquela área de interesse público à iniciativa privada”, contextualizam os deputados do BE, no texto do projeto de resolução.

“Em 2011, o Governo entregou uma parte da responsabilidade de vigilância e denúncia de incumprimentos do Parque Natural da Serra da Estrela (PNSE) a esta mesma empresa especializada em hotelaria, turismo e desportos de aventura. A entrega das funções de enorme importância e responsabilidade, como o de alertar para inconformidades nesta zona ecologicamente sensível, classificada como Reserva Biogenética, Sítio de Interesse Comunitário (rede Natural 2000) e sítio Ramsar, a dois vigilantes da natureza contratados pela Turistrela, contrariam a necessidade de uma vigilância independente que alerte para as ações da própria Turistrela, pródiga em levar a cabo atividades sem os devidos estudos e licenciamentos”, acrescentam.

“Num processo que se iniciou em 2003, com o objetivo de proceder a obras na Estância de Esqui na Serra da Estrela, a Turistrela solicitou dispensa de Avaliação de Impacte Ambiental (AIA), processo esse que culminou em 2008 com a emissão de um parecer desfavorável da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Centro (CCDRC), na qualidade de Autoridade de AIA e posterior indeferimento por parte do Gabinete do Secretário de Estado do Ambiente. Em 2010 foi apresentado um Estudo de Impacte Ambiental (EIA) para o Projeto de Requalificação da Estância de Esqui da Serra da Estrela, em fase de estudo prévio, sobre o qual foi emitida a declaração de conformidade do EIA, tendo a CCDRC, em 14 de junho de 2011, procedido à emissão da Declaração de Impacte Ambiental (DIA) Favorável Condicionada, com validade até 14 de junho de 2013”, acrescentam.

“Acontece que a proponente não implementou o Projeto de Requalificação da Estância de Esqui da Serra da Estrela, assim como não aceitou as condições da DIA, deixando caducar a mesma. Contudo, esta situação não impediu que entre 2011 e 2015 tenham sido realizados diversos trabalhos na estância de esqui, como sejam a remoção de um telesqui, alteração nas tubagens de produção de neve, reparação e impermeabilização no edifício central de apoio à estância e a colocação de cercas de neve ou paliçadas”, sublinham os bloquistas.

O projeto de resolução descreve mais irregularidades atribuídas à empresa Turistrela, concluindo que “esta empresa está continuamente a contornar e violar a lei, e pelo menos desde 2003 que estes atropelos à legislação e às bases do contrato de concessão são relegados pela entidade concessionária. Nesse sentido, o Bloco de Esquerda defende a reversão da concessão da Serra da Estrela dentro do definido no decreto de concessão que determina na BASE XII número 2 que ‘a reiterada desobediência às determinações do Governo respeitantes ao objeto da concessão’ e a ‘sistemática infração às disposições
do contrato de concessão’ dão lugar à rescisão do contrato pelo concedente, tal como o previsto no artigo 423º do Código dos Contratos Públicos onde se pode ler que a ‘ocorrência de deficiência grave na organização e desenvolvimento pelo concessionário das atividades concedidas, em termos que possam comprometer a sua continuidade ou regularidade nas condições exigidas pela lei e pelo contrato’ é motivo atendível para a cessação da concessão pelo concedente”.

O BE defende que “é assim urgente a definição de uma estratégia turística e ambiental para o PNSE que passe pela definição de um plano de gestão que tenha em conta as restrições ambientais do Parque Natural da Serra da Estrela, assim como a necessária regulamentação do turismo na Serra da Estrela, revogando a concessão atualmente existente por reiteradamente incumprir com essas suas obrigações, nomeadamente de apresentação de um plano que garanta a proteção deste património natural. Para além disso, é necessário reavaliar a implementação de medidas que conciliem as duas atividades, mas que privilegiem os sistemas ecológicos e de biodiversidade da serra de forma a garantir a sua correta preservação, algo que já se percebeu não ter sido garantido nos últimos 48 anos, nem a correta dinamização turística, nem a importante salvaguarda dos valores ecológicos e de biodiversidade deste importante Parque Natural”.

A proposta concreta divide-se em dois pontos:
  1. “A promoção das diligências necessárias previstas no Decreto-Lei n.º 408/86 e nos contratos de concessão do PNSE, para a extinção da concessão da exploração turística e desportiva deste Parque Natural, garantindo a restituição dos terrenos e equipamentos ao Estado nas condições em que os mesmos se encontravam antes da construção do referido tapete rolante em 2015”;
  2.  “A adoção de um modelo de gestão semelhante ao definido para o Parque Nacional Peneda Gerês para que ao Parque Nacional da Serra da Estrela seja atribuída a responsabilidade pela elaboração de um plano estratégico de desenvolvimento onde se enquadre um modelo de gestão que articule as exigências de conservação ambiental e proteção do património natural com o exercício de uma atividade turística sustentável”.

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Meteorologia Serra Estrela - Vitor Baia