sexta-feira, 17 de janeiro de 2014

Vítor Baía o homem do tempo



Vítor Baía aprendeu a prever o tempo sozinho e hoje trabalha com os maiores alpinistas do Mundo.

Vítor Baía é instrutor de parapente, praticante de montanhismo e meteorologista amador sempre que é preciso, o que no seu caso é quase todos os dias. Nunca andou na faculdade, mas isso não o impede de ser o meteorologista autodidata mais requisitado de sempre: faz previsões para alguns reputados alpinistas mundiais, entre eles o português João Garcia. 

Na sua casa, na Guarda, sítio onde nasceu, cresceu e sempre viveu "por opção", há uma estação meteorológica e muitos livros ligados a esta prática, a maioria dos quais iguais aos que os estudantes usam nos bancos da faculdade. 

A meteorologia sempre foi um hobby necessário para as atividades desportivas e ao ar livre a que se dedicou desde a juventude, mas Vítor foi aprofundando cada vez mais "a teoria e os métodos", tornando a meteorologia numa das suas principais atividades. E fá-lo com muito mérito: é nele que os profissionais confiam. Entre os seus clientes contam-se nomes mundialmente famosos no mundo do alpinismo, aqueles que se entregam à conquista dos Himalaias, como Mario Panzeri, Ivan Vallejo ou Edurne Pasaban, a primeira mulher do mundo a escalar todas as 14 montanhas com mais de oito mil metros. 

"Hoje em dia, graças à internet e às comunicações móveis, é fácil fazer previsões à distância, para qualquer lado do Mundo, mesmo que seja para os Himalaias. Primeiro é preciso saber as coordenadas do local onde estão os alpinistas. É importante saber de que lado da montanha estão, por exemplo", esmiúça sobre o seu métier. Atualmente, fornece estimativas para alpinistas espanhóis, da América do Sul, Roménia e Eslováquia.
Depois, com as cartas meteorológicas do local (a instituição americana NOAA - National Oceanic and Atmospheric Administration fornece-as para todo o Mundo via internet), elabora as previsões e envia-as por sms ou e-mail. 

"O tempo é um fator decisivo para eles saberem, por exemplo, quando devem atacar o cume. O intervalo de bom tempo é geralmente muito curto e eles têm de saber com antecedência, até porque têm de preparar a logística necessária para o arranque", avisa. Para já, a percentagem de subidas ao cume bem sucedidas com as previsões meteorológicas de Vítor Baía "ultrapassa os 80 por cento". 

Vítor começou a praticar montanhismo ainda nos anos 80, tendo sido um dos fundadores do Clube de Montanhismo da Guarda. Foi, aliás, num dos acampamentos organizados pelo clube que conheceu João Garcia, o alpinista português que se tornou o décimo alpinista do Mundo a ascender às 14 montanhas com mais de 8000 metros existentes no Planeta, todas sem recurso a oxigénio artificial e sem carregadores de altitude. 

Mais tarde, começou a fornecer as previsões a João Garcia em 2000, parceria que se prolongou até 2010, quando este alcançou o cume do Annapurna e completou o seu objetivo. "Gosto de trabalhar com os alpinistas, porque sendo eu adepto da modalidade permite-me partilhar com eles o desafio das suas conquistas", justifica.

Rotina diária
Vítor faz previsões todos os dias, com recurso a cartas meteorológicas, imagens de satélites que obtém através da internet e tefigramas (diagramas termodinâmicos) do instituto oceânico e atmosférico norte-
-americano, que fornece aos alpinistas e aos praticantes de parapente. 

"Aprendi a interpretar os dados das cartas, que são o mais importante. A estação meteorológica que tenho em casa serve sobretudo para ir confirmando depois as previsões que fiz. Como praticante de parapente, precisava desta informação quase diariamente para poder levantar voo e, por isso, comecei a elaborar eu próprio as previsões", explica. 
Antes, Vítor era vendedor de seguros. "Mas era um vendedor de seguros infeliz. Andava de pasta na mão e olhos no céu, sempre a vê-lo bonito para voar", afirma, agora que deixou os seguros para outros. "Fiquei mais pobre, mas sou muito mais feliz. Nada se compara à possibilidade de podermos fazer na vida aquilo de que gostamos", admite. 

O seu quotidiano é agora dividido entre o parapente, modalidade que começou a praticar nos anos 90, depois do montanhismo (e da qual é instrutor) e a meteorologia. Todos os dias podem ser um "bom dia para voar, dependendo do tempo".

As suas estimativas são usadas pelos Bombeiros de Portugal (bombeiros.pt) e gere ainda o site clubevertical.org, onde apresenta diariamente as previsões do tempo para a serra da Estrela. "As pessoas gostam sempre de saber se há neve na serra ou não, antes de virem para cá passear. Por isso, foi a forma que encontrei de pôr este serviço ao serviço de toda a gente." A meteorologia, ou seja o estudo e a elaboração das previsões, ocupa-lhe "cerca de três horas diárias" que, faça chuva ou sol, são de puro prazer.

Acompanhe as previsões do Meteorologista Vitor Baia atravez dos seguintes Links:
Facebook - Meteorologia Serra Estrela - Vitor Baia
Clube Vertical de Parapente - Serra da Estrela
Bombeiros.pt

Fonte Texto: Jornal Correio da Manhã
Fonte Video: O Interior

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Meteorologia Serra Estrela - Vitor Baia